Teste definitivo contemporâneo da auto-consciência

Quando você vai ao supermercado fazer compras existe uma clara motivação pra pegar o carrinho. Uma motivação que aponta única e exclusivamente para as suas necessidades: facilitar o seu processo de fazer compras. Ao terminar, você guarda as compras no carro. Agora, você sabe qual a coisa correta a ser feita: devolver o carrinho no local correto. Mas abandonar o carrinho no estacionamento não é ilegal. Não é punitivo nem multável. Não existe qualquer lei ou regra que obrigue você a colocar o carrinho no lugar correto. Você sabe que provavelmente, o local onde deixará o carrinho atrapalhará outras pessoas. E você também sabe que não tem nenhuma emergência no momento. Logo, a devolução do carrinho é um teste extremamente atual para saber se você é uma pessoa disposta a agir de forma correta mesmo que não haja incentivo para tal, nem punição para fazer o oposto. É um teste para saber se você é capaz de se auto- governar para o bem comum. Mais importante do que um teste moral ou ético, esse é um teste de ação. Você é uma pessoa disposta a agir quando agir é necessário?

A palavra convence, o exemplo arrasta

Neste capítulo do livro, Robert Greene mostra que a ação vale muito mais que o discurso quando o assunto é afirmar a sua influência. Ele conta a história de um guerreiro romano que era famoso por suas glórias em batalha e que ao defender sua candidatura a um posto relevante da poítica, apenas mostrou suas cicatrizes, demonstrando com as consequências de suas ações, seu apreço e amor por Roma. Quando a ele foi dada a palavra, tanto senadores quanto o público notaram que suas ideias eram egoístas e elitistas. O personagem acabou não sendo eleito e inclusive quando abandonou a cidade eventualmente, sua saída foi celebrada. Em um time, ou na sua equipe, a melhor ferramente para convercer alguém que algo precisa ser feito, é você mesma fazê-lo. Ninguém deve estar acima daquilo que é o correto a ser feito naquele momento. Pela minha própria experiência, o discurso, a justificativa que alguma coisa precisa ser feita, sempre dá mais margem para questionamento ou negociação do que a ação em si. Também deve ficar claro que nem sempre a ação vai convencer. Em um determinado navio que passei embarcado por dois anos ao todo, sempre que eu via a bandeja de frutas vazia no refeitório, eu levava para o pessoal da cozinha. Por algum motivo, quem terminava com as frutas não entregava. Perceba a similaridade com o carrinho de compras. “A mão não cai” ao levar a bandeja, mas por algum motivo não era levada. Pelos dois anos, a tripulação foi basicamente a mesma. Passei os dois anos levando a bandeja. Minha ação nesse caso não convenceu ninguém.

A ação também serve para motivar ou desmotivar alguém. Quando você estiver tentando implementar uma mudança ou uma nova ideia, a melhor maneira de provar que aquilo será efetivo é com uma demonstração. Aplique a sua solução em uma escala menor ou dirante a sua apresentação e ficará muito difícil argumentar contra. É sempre possível argumentar contra argumentos.

Mas você quer se exibir/roubar a função de alguém

Eu já fui questionado uma vez que estava fazendo o trabalho de uma outra pessoa. É um questionamento válido e eu consigo ver a lógica. Por exemplo se o supervisor da limpeza em uma empresa vê uma pessoa que não seja da equipe da limpeza recolhendo algum eventual lixo, pode punir a pessoa encarregada pela limpeza daquele local. Penso que existem duas resistências a esse questionamento:

  • A pessoa encarregada pela limpeza, no exemplo anterior, talvez já não seria punida caso o supervisor visse o lixo no chão? Não é melhor ter a chance de ajudar um colega de humanidade nas suas tarefas do que correr o risco maior que essa pessoa se prejudique pela omissão da tarefa?
  • Ao ver uma pessoa se engasgando na rua você chamaria uma ambulância e seguiria com sua vida ou tentaria ajudá-la a desengasgar? Ao ver que seu filho não sabe uma conta básica da tabuada tentaria ensiná-lo ou pediria a ele que resolvesse com a professora pra que você não ocupe o cargo dela?

Eu nunca soube de alguém que foi prejudicado por uma ação minha. Talvez porque não se sentiram confortáveis para me confrontar. Porém pessoas próximas já me agradeceram por ajudá-las. Caso você já tenha ouvido falar de um caso, ou já tenha passado por uma experiência onde talvez uma pessoa tenha se sentido prejudicada por você fazer aquilo que talvez ela deveria ter feito, quantas vezes isso aconteceu? Uma? Duas? Quantas vezes você deixou de tomar uma atitude positiva, ou deixou de potencialmente ajudar muito alguém por medo do que possa acontecer?

Em boca fechada não entra mosca

Como falar é mais fácil do que agir, pensamos menos ao falar do que ao agir. A mensagem central neste capítulo do livro e o que eu aprendi e levo é sempre falar menos do que o que eu quero. Isso é muito difícil. As vezes falamos muito…mas é um aprendizado.

Cortina de fumaça

O caso de exceção que Robert Greene cita onde falar pode ter serventia é que a fala pode servir como uma distração em um jogo de poder. Ao anunciar que você fará algo e depois fazer outra coisa, pode pegar seus inimigos de surpresa.
Nunca soube como usar isso em um conceito de carreira. Talvez para uma pessoa que esteja deliberadamente te sabotando para conseguir uma promoção ou para te demitir. Mas se esse for o caso e você falar algo e depois fazer outra coisa, seus outros colegas de trabalho também notarão isso, e você pode adiquirir uma reputação ruim em consequência…e lembre-se: muito depende da sua reputação.

Exemplo (negativo, reclamação sobre treinamento)

Esse é um exemplo do que não fazer. É uma prática comum em navios que a tripulação faça diversos treinamentos e exercícios para que possamos lidar melhor com as emergências quando ocorrerem. E nem sempre a tripulção está bem treinada. No início da minha carreira recebi a incumbência de conduzir um exercício de incêndio. A tripulação teve muita dificuldade para vestir a roupa de bombeiro, o que é uma das tarefas mais básicas. Assim, não conduzi um exercício muito pesado. Mesmo assim a tripulação brasileira enfrentou muitas dificuldades. A tripulação estrangeira presente resolveu não só não ajudar, mas ficar rindo de nós. Na reunião que fizemos entre os oficiais onde discutimos sobre o que aconteceu no exercício, eu resolvi reclamar e dar esporro em todo mundo que riu. Eu estava com 1 ou 2 anos de embarque e dei esporro em pessoas com 20, 30 anos de experiência de navio na frente dos outros oficiais, inclusive do comandante. Quando a reunião terminou, o comandante que foi uma das pessoas mais calmas e equilibradas que eu já conheci, esperou que eu ficasse sozinho, me chamou, olhou no meu olho e disse: “Nunca mais faça o que você fez aqui hoje. Entendeu?” Eu disse que sim. Ele continou olhando dentro da minha alma por 3 segundos e foi embora. Desse dia em diante eu perdi o respeito com parte da tripulação estrangeira naquele navio, e o comandante nunca mais me tratou como me tratava antes. Além do fato de que nunca se dá esporro em ninguém em público, eu deveria ter treinado a tripulação e mostrado com a minha ação a maneira correta de se enfrentar o problema de um grupo destreinado. O que os tripulantes estrangeiros fizeram não está certo. Mas a maneira de lidar com isso não é esbravejando.