Um novo recorde

  • Eu aposto que consigo beber a garrafa inteira em uma golada só!
  • Duvido…-disse com alguma descrença meu amigo, Thomaz.

Eu saí da padaria e comecei a beber. A garrafa estava suada e o Sol estava a pino. Combinação fatal. Os 2L de Coca-Cola não tiveram chance. Eu acabei com todo o refrigerante sem tirar o bico da boca. Comemoramos…..estava batido ali um triste recorde…..

Eu estava quase viciado em Coca-Cola. Eu treinava basquete no Colégio Militar e voltava pra casa à tarde. No caminho, passava em frente a uma padaria. Quase sempre eu comprava uma garrafa de Coca-Cola e ia pra casa bebendo. Isso ia se repetindo quase todos os dias. Além disso, festas, reuniões, domingos em família, todas essas situações eram regadas a Coca e eu bebia bastante. Demais.

Algum tempo depois do meu “recorde”, por algum motivo casual, eu assisti dois vídeos. O primeiro era um vídeo mostrando Coca-Cola e Coca-Cola Zero sendo fervidas em uma panela. A Coca-Cola Zero ferve quase completamente. A Coca-Cola normal deixa uma goma preta nojenta na panela. A goma é açúcar. O segundo vídeo era o para-choque de carro enferruajdo sendo tratado com Coca-Cola. A Coca-Cola deixou o para-choque muito bem limpo.

Eu coloquei links para vídeos que talvez tenham sido os mesmos que eu assisti mas não tenho certeza.

Por algum motivo, depois que eu assisti esses dois vídeos eu nunca mais bebi Coca-Cola. Nunca. Eu passei de beber quase diariamente para nunca mais. Sem psicólogo. Sem terapia. Sem 12 passos. Eu não preciso lutar contra uma vontade reprimida. Não é uma vitória a cada dia. Eu tenho 0 vontade, independente de quão quente esteja o dia, e de quão suada esteja a garrafa que eu esteja vendo.

Ou seja, eu tinha um desejo latente que sumiu após ser exposto, confrontado com uma informação crítica.

Mais consumo não nos deixa mais felizes

Em um estudo de 2010, Daniel Kahneman e Angus Deaton revelaram que dinheiro compra felicidade até um certo ponto. Podemos dividir felicidade entre bem estar com a vida e bem estar emocional. As pessoas responderam pesquisas sobre emoções que foram sentidas no último dia (bem estar emocional) e pesquisa sobre se a pessoa acha que vive a “pior vida possível” ou a “melhor vida possível” numa escala de 0 a 10.

A satisfação das pessoas com sua situação de vida aumenta conforme a renda da família aumenta, porém o bem estar emocional não. Existe um limite que na época foi calculado em uma renda anual de aproximadamente U$72.000,00 por ano (em padrões norte-americanos de consumo. Talvez no Brasil esse número seria diferente). Quando li isso no livro Casais Inteligentes Enriquecem Juntos do Gustavo Cerbasi, sabia que aquela informação seria valiosa. A partir daquele ponto comecei a ler muitos livros e consumir muito material de pessoas que tinham uma vida com baixo consumo de dinheiro e recursos e que ainda sim viviam vidas plenas, completas e satisfatórias.

O que os alhos têm com os bugalhos?

Banhos frios

Em Joinville a energia elétrica custa muito menos que em Belo Horizonte. Quando para BH me espantei com o custo da nossa conta. Como o principal vilão das contas de energia elétrica normalmente são os chuveiros elétricos (não tínhamos ar condicionado ou geladeira de duas portas), eu sabia que teria que tomar banho frio. Mas uma pessoa não começa simplesmente do nada a tomar banho frio. Assim do zero, da inércia, do conforto do banho quente, é muito difícil.

O que eu precisava fazer? Voltando ao meu caso da Coca-Cola, eu precisava confrontar meu desejo latente por banho quente com uma informação tão avassaladora, tão reveladora, tão “traumática”, que dali em diante eu sentiria vontade ativa de tomar banho frio. Ou seja, eu deveria não apenas pensar “não vou tomar banho quente porque dinheiro” e sim “vou tomar banhos frios porque minha vida ficará muito melhor”. Entre googadas e várias leituras descobri Wim Hof. Depois de assistir a um documentário onde ele corre por geleiras, nada em águas gélidas, corre uma maratona no deserto e ensina pessoas suas técnicas de controle de reações a sistemas nocivos ao corpo com corroboração científica e que ele deixa claro que isso é possível graças a técnicas que nascem na tolerância a banho frio, ficou difícil justificar tomar algum outro banho quente na minha vida.

Eu tomo banho frio pra economizar dinheiro? Não. Eu tomo banho frio para melhorar minha saúde. Isso nasceu de um desejo de economizar dinheiro? Sim, mas precisava de algo mais forte e profundo pra que eu pudesse seguir, me livrando da mesquinhez do “economizar dinheiro”.

Musculação

Eu adoro malhar. Comecei a malhar com 14 anos. Eu sempre precisei de academia. Como comecei a malhar em uma academia, acabei ficando dependente de ter determinados equipamentos senão não poderia malhar. Mas a vida acontece e comecei a trabalhar em navios. Os navios que eu trabalhava não tinham academias muito boas e balançavam bastante tornando o exercício da musculação algo improdutivo, frustante e até perigoso.

Ao invés de reclamar e continuar dependendo de equipamentos para malhar, procurei informações sobre como fazer musculação com pesos e barras pode trazer malefícios e como eu poderia fazer musculação sem equipamentos. Encontrei diversos vídeos de pessoas se machucando enquanto malham, competidores com dores constantemente e outros mostrando que malhar demais com pesos pode ser ruim se não for feito da forma correta. Descobri a calistenia, que é um nome chique e desnecessário para malhar sem pesos. Eu precisaria simplesmente de um piso, um lugar para me pendurar e com alguma sorte barras paralelas. Temos desses 3 em navios com alguma facilidade bastando criatividade e força de vontade. Hoje sou berm satisfeito com o modo que encontrei e não tenho qualquer ressentimento.

Então é tudo show de bola pra sempre?

Não. Como sou humano, nem sempre essa filosofia dá certo sempre. As vezes me questiono sobre malhar com pesos. Já tive experimentos que tentei fazer e não deram certo. Posso citar 2 exemplos:

  • Já tentei ser vegano. Fiz o mesmo processo. Assisti um filme chamado Terráqueos que mostra a crueldade com que os animais são criados. Assisti outros filmes também. Também acompanhei de perto sites sobre alimentação vegana por mais de um ano. Porém quando fiz a transição, não consultei um nutricionista. Com 3 meses de veganismo comecei a passar muito mal. Foram umas 2 semanas me sentindo muito fraco, com dores de cabeça e cãimbra. Um bife. Depois de um bife melhorei. Foi psicossomático? Talvez. Foi um desbalanço de nutrientes? Talvez.
  • Sou bastante viciado em açúcar e chocolate. Já li muitos….muitos livros sobre os malefícios do açúcar. Já tive parentes próximos meus que morreram por consequência de diabetes. Por algum motivo ainda desejo açúcar. Ainda não vi a informação crítica.

Apesar desses fracassos pontuais, os benefícios em muito os superam.

Aplicando e Resumo

Quando me deparo com alguma despesa ou atitude que sinto que é injustificável, eu me cerco de muitas informações que contrariam essa despesa e de outras informações que corroboram uma atitude alternativa. Se essa tática der certo, evitar a despesa ou a atitude não será um sacrifício. Se ela der realmente certo eu terei prazer e satisfação em adotar o comportamento que me economiza recursos.

O que busco é convencer o meu cérebro que o comportamento que eu quero, é na verdade o mais benéfico para mim. Isso significa que, se você gasta dinheiro demais com algumas coisas, ou se você adota certos vícios, é porque em algum lugar no seu cérebro, você acredita que aquilo é de alguma forma benéfico pra você. Esse sistema de lavagem cerebral reversa, tenta cobrir isso e virar para outro lado.